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quinta-feira, 31 de março de 2011

O enterro do Sandoval Wanderley



Indignados com o constante desrespeito à classe teatral, um pequeno, mas barulhento grupo de artistas fez um protesto criativo na tarde dessa segunda-feira(28) no bairro do Alecrim. Vestidos de preto, os atores realizaram uma marcha fúnebre simbólica, com caixão e tudo mais, do único teatro municipal da cidade, o Sandoval Wanderley, fechado há dois anos. O ato teve início na praça Gentil Ferreira e seguiu até ao teatro, com um choro tragicômico que chamava a atenção dos transeuntes.

A marcha serviu também para fazer outras reclamações. Os manifestantes reclamavam dos cachês não pagos, como os do Auto de Natal, e de editais como o do Festival Agosto de Teatro, Lula Medeiros e Chico Vila, que ainda não tiveram os valores repassados para os grupos.  O ator Rodrigo Bico (@rodrigobico), do grupo de teatro Facetas Mutretas e Outras Histórias, foi quem começou a movimentação na rede social Twitter. “No dia do teatro será que temos mesmo o que comemorar? Esse dia merecia um protesto por tudo que estamos passando nesses anos”.

A atriz Quitéria Kelly (@quiteriakelly) foi uma das pessoas que se uniu ao chamado do colega e teve a idéia do enterro: “O Bico fez o chamado. Então juntamos alguns participantes do Baixo de Natal (@baixodenatal) para somar com esse protesto.” Quitéria explica que a idéia do enterro surgiu quando ela se lembrou que há muito tempo Clotilde Tavares fazia oficinas que se chamavam “Enterrando a Ignorância”, em que um enterro simbólico era realizado no final.


Promessas
Em outubro do ano passado a REVISTA CATORZE entrevistou o antigo presidente da Fundação Capitania das Artes, Rodrigues Neto. Na época Rodrigues ressaltou que a prefeitura não tinha recursos próprios para reconstruir o Teatro Municipal, mas que havia conseguido habilitar um projeto junto ao Fundo Nacional de Cultura. “Estou apenas dizendo uma realidade. O Sandowal Wanderley estava interditado. Nós não vamos conseguir porque não temos recurso para reconstruir aquele teatro. Ele já está habilitado para receber dinheiro do Fundo Nacional de Cultura”.

Reportagem: Beto Leite
Fonte: Revista Catorze

Artistas sepultam o Sandoval

Foto: Beto Leite/Revista Catorze
Chorar a morte de um ente querido. Foi desta forma que o Rio Grande do Norte celebrou o Dia Internacional do Teatro, ocorrido no domingo, em ato público ontem à tarde pelas ruas do Alecrim, tendo o Teatro Municipal Sandoval Wanderley como o ator principal. Há dois anos e três meses de portas fechadas, um dos poucos espaços voltados às artes cênicas no estado foi "enterrado" pela classe artística potiguar. Com direito a ataúde e cortejo fúnebre, cerca de 15 artistas ligados ao teatro e ao movimento Baixo de Natal chamaram a atenção do bairro quase centenário que ganhou a casa em 1962, durante a gestão de Djalma Maranhão.

Para a atriz Quitéria Kelly, o cortejo teve o objetivo de chamar atenção da sociedade e dos órgãos públicos para a situação em que o teatro se encontra. "E não só isso. Vimos que não tínhamos o que comemorar no Dia Internacional do Teatro. O próprio Festival Agosto de Teatro corre o risco de não mais ocorrer, sem contar que os artistas da edição passada ainda não receberam", destacou, mencionando que outro objetivo foi conscientizar o bairro do Alecrim. O ato reuniu cerca de 150 pessoas.

A atriz Ivonete Albano, ex-diretora do Teatro Alberto Maranhão, diz ainda que o "enterro" do Sandoval "é uma possibilidade de denunciarmos a incompetência dos gestores públicos. Temos aí editais não pagos, atraso de repasses aos pontos de cultura, este espaço fechado há mais de dois anos. Para nós, é a perda de um espaço importante, que recebeu espetáculos belíssimos". Outro apoiador, o diretor artístico da Casa da Ribeira, Henrique Fontes, diz que a atual realidade das artes cênicas no estado é uma das mais difíceis enfrentadas pela classe.

"A arte está abandonada. Não existe uma política de fomento ao teatro, ao circo nem à dança. O que existe são eventos pontuais e, mesmo assim, sem a garantia de pagamento aos trabalhadores. Muitos jovens estão decepcionados com esta situação e abandonando a profissão", destacou. "A gente quer que o teatro reabra e que exista uma política de fomento às artes cênicas. O últimoedital lançado tem mais de um ano". (Adriana Amorim)

Publicada no Diário de Natal